Eu trabalho desde julho de 2004 com um aluno especial. A família que o adotou apesar de ter uma boa condição financeira e proporcionar todo tipo de exame, ainda não descobriu o que ele tem exatamente. Apenas temos informações de que os pais consanguineos usavam drogas e em gestação sofreu inclusive uma tentativa de aborto.
Ele dispõe de todo o aparato terapêutico como: fisioterapeuta, geneticista, psicóloga e psicopedagoga.
Tem dificuldade na fala e motricidade. A todo instante temos a impressão de que ele vai cair para a frente. Ele anda rápido e atualmente consegue fazer longas caminhadas. Quanto a fala tenho a impressão que ele pensa muito rápido e encontra dificuldade em articular as palavras certas para se fazer entender, a voz também falha de vez em quando. Ele precisa de tempo para se comunicar e paciência de quem está ouvindo para que ele consiga falar.
Em 2004 eu cheguei na escola onde estou até hoje, era regente da turma de 4ª série da escola. Em 2003 este aluno já estudava nesta escola mas havia saído para uma melhor acomodação de horários da família. Porém ele não se adaptou e voltou em julho de 2004, quando então eu o conheci. Como qualquer humano que encontra uma pessoa que não conhece, começamos devagar a nos comunicar, nos conhecer e aos poucos fomos criando laços. De lá para cá tivemos muito êxito e alguns fracassos que conforme Itard, referindo-se ao selvagem do Aveyron, atribuo mais aos meus desacertos do que a incapacidade deste menino sensível e esforçado detentor de uma capacidade incrível.
Em 2005 e 2006 ele permaneceu na 4ª série comigo. No início eu não conseguia entender o que ele escrevia com a letra cursiva, então um dia trabalhando cartazes percebi que ele tinha uma letra de forma bem legível, entusiasmei-o a escrever desta forma e respeitava seu ritmo tanto de leitura quanto de escrita. Ele escreve ortograficamente correto, tanto que os colegas estão sempre perguntando a ele se tal palavra se escreve com x ou ch ou outras pronúncias e ele se orgulha em responder, assim como a tabuada. Eu jamais deixei que ele permanecesse a mercê das aulas e exigia que ele sempre participasse inclusive das aulas de educação física onde é possível observar as habilidades físicas de cada um e ele percebia que nem todos eram tão rápidos e ágeis mas todos participavam das atividades inclusive ele.
Em 2007 ele começou a frequentar a 5ª série onde temos vários professores e eu deixei a 4ª série para companhá-lo nas aulas de Português e Artes, mas também olhava suas atividades nas outras disciplinas e observava atividades onde ele não havia terminado, questionei sobre um texto do caderno de Geografia que estava incompleto, ele me disse que estava copiando e o professor apagou então ele continuou a copiar onde o professor escreveu a seguir. Quando participava dos conselhos de classe ou reuniões com outros professores ficava observando eles falando que este aluno demorava muito e que não tinham como esperar, eu ficava enlouquecida pois sabemos que existem formas de fazer com que todos os alunos participem das atividades ou então participam da aula somente aqueles alunos cuja presença do professor é dispensável, este justamente é o nosso desafio: aqueles alunos que encontram dificuldades e que nós devemos encontrar estratégias para atingi-los.
Ele tem enorme habilidade com aparelhos eletrônicos como celulares e computadores: é meu único aluno que digita sem olhar para o teclado. Pedi então aos pais que adquirissem um laptop para que ele pudesse usar em sala de aula: ao invés de escrever no caderno, ele usa o laptop. Este ano estou com ele na 5ª série na disciplina de Português. Ele criou uma pasta para cada disciplina na área de trabalho do computador e, enfim... ainda é uma nova experiência que espero os professores consigam aproveitar da melhor maneira.
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2 comentários:
Oi querida!
Fiquei comovida com o relato da tua experiência. Sugiro que mantenhas registros da evolução desse menino tão especial que teve a felicidade de te encontrar. Espero que os demais professores consigam perceber os importantes avanços que ele vem fazendo e descobrir que existem outras possibilidades de promover aprendizagem. Continue assim, tendo coragem de inovar. Com certeza todo esforço vale a pena na busca de alternativas.
Um grande beijo,
Profa. Nádie
Oi Mara, passei aqu, como sempre e me deparei com essa tua escrita, que tão bem retrata nosso querido amigo. Bom saber dos tantos progressos e da possibilidades que vens permitindo para incluí-lo nas aulas com mais agilidade.
Bj carinhoso da amiga.
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