domingo, 31 de janeiro de 2010

Kleiman(2006) diz que outra agências de letramento, como a família, a igreja, a rua, os lugares de trabalho mostram orientações de letramento muito diferentes.

Ao entrevistar alunos de EJA em Sapiranga percebi que um dos interesses mais pronunciados com relação a necessidade de frenquentar a escola era para acompanhar as leituras da igreja e quando assisti ao filme do Instituto Paulo Freire também fiquei encantada com a autonomia adquirida através da leitura construída, do valor que este hábito assumiu na vida daquelas pessoas que de agora em diante poderiam ler as placas das ruas, pegar o ônibus e tudo isso sem pedir ajuda.

É necessário que saibamos nos utilizar destas vivências para a Educação de Jovens e Adultos pois não podemos ignorar o que está fora dos muros da escola.
Paulo Freire(1980) vê a alfabetização como um processo capaz de levar o analfabeto a organizar reflexivamente seu pensamento, desenvolver a consciência crítica, introduzi-lo num processo real de democratização de cultura e de libertação.

Mas para que essa inclusão social aconteça de fato as famílias têm que assumir o seu papel primeiro na educação dos filhos, participando realmente das suas vidas, não apenas propiciando-lhes alimentação e conforto mas crescimento intelectual, moral e ético e a escola precisa ser aquela que acolhe, que espera, que se preocupa quando o aluno não freqüenta as aulas, que chama os pais não para reclamar mas para conhecê-los e saber o que acontece no dia a dia do aluno para que este conhecimento possa auxiliar no entendimento das suas construções, dos seus pertencimentos.

Penso que é importante refletir sobre estes aspectos porque muitas vezes percebo os pais chegando atucanados na escola querendo saber o que os filhos aprontaram quando muitas vezes é apenas um convite que queremos fazer a eles como já aconteceu quando queríamos chamá-los para serem pais conselheiros da turma do seu filho

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

ARQUITETURAS PEDAGÓGICAS


"Arquitetura é antes de mais nada construção, mas, construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e visando a determinada intenção. E nesse processo fundamental de ordenar e expressar-se ela se revela igualmente e não deve se confundir com arte plástica, porquanto nos inumeráveis problemas com que se defronta o arquiteto, desde a germinação do projeto, até a conclusão efetiva da obra, há sempre, para cada caso específico, certa margem final de opção entre os limites - máximo e mínimo - determinados pelo cálculo, preconizados pela técnica, condicionados pelo meio, reclamados pela função ou impostos pelo programa, - cabendo então ao sentimento individual do arquiteto, no que ele tem de artista, portanto, escolher na escala dos valores contidos entre dois valores extremos, a forma plástica apropriada a cada pormenor em função da unidade última da obra idealizada. A intenção plástica que semelhante escolha subentende é precisamente o que distingue a arquitetura da simples construção."(Lúcio Costa)

O site http://pt.wikipedia.org/wiki/arquitetura traz a visão de Lúcio Costa de "arquitetura" e também a teorização da arquitetura moderna que surge de um "programa" incorporando as variáveis sociais, culturais, econômicas e artísticas do momento histórico.

Achei muito interessante parametrizar arquitetura em sua acepção natural e mais ampla com as arquiteturas pedagógicas estudadas no PEAD durante este semestre. É certo que uma arquitetura pedagógica deve ser pensada a partir do conhecimento prévio a respeito do grupo a que pertencem nossos alunos, parâmetros estes que também são levados em conta pelos arquitetos ao desenharem seus projetos urbanos, paisagísticos, ambientais,enfim...levando em consideração o que os clientes já tem e quais as suas necessidades.

É certo que os arquitetos ao desenharem seus projetos além do conhecimento do seu público, têm sua própria filosofia. Assim os educadores têm suas concepções pedagógicas que norteiam suas arquiteturas e somados ao seu sentimento individual, no que ele traz de bagagem o consenso entre os extremos encontrando a maneira mais apropriada de utilizar os recursos materiais e humanos e principalmente as tecnologias da informação tendo como finalidade a a construção de conhecimento.

domingo, 24 de janeiro de 2010

APRENDEMOS A VIDA TODA! NÃO HÁ TEMPO PRÓPRIO PARA APRENDER...



Sou uma professora que se encanta com as construções dos alunos, adoro observar a pureza com que falam de si e do seu cotidiano, o encanto revelado pelo olhar frente a uma nova descoberta das crianças é maravilhoso.

Por esta razão vi o filme do Instituto Paulo Freire e me senti emocionada ao ver o depoimento daqueles senhores falando da sua liberdade adquirida após o encontro com pessoas que lhe mostraram um país mais fraterno favorecendo o convívio e a troca entre as pessoas porque eu sempre tive contato profissional com crianças mas percebi que a maravilha de começar a ler o mundo, aproximando-se mais criticamente de si mesmo e do meio, assumindo seu pertencimento e tendo capacidade para transformar a sociedade em que vive encanta pessoas de todas as idades.

Constatei que mostrando ao povo o seu avanço através do diálogo, trabalhando assim a oralidade e entendendo que o erro é o momento do acerto onde o aluno entra em conflito e é desafiado para pensar e modificar não tem limite de idade para ver a alegria nos olhos de quem aprende.

PRÁTICAS DE LEITURA, ESCRITA E ORALIDADE NO CONTEXTO SOCIAL




Paulo Freire(1980) descreve a alfabetização
como um processo capaz de levar o analfabeto a organizar reflexivamente seu pensamento, desenvolver a consciência crítica,
introduzí-lo num processo real de democratização
da cultura e de libertação.

Seja com os materiais de leitura de uma sala de aula urbana, ou de uma tribo indígena, ou na igreja, em placas, muros, outdoors, faixas com protestos, chamadas de programas televisivos ou em conferências a leitura ocorre mesmo sem os sujeitos perceberem e aqui faço um link com Santomé(1998) que afirma que a proposta pedagógica deve fazer com que os alunos prestem atenção e sejam desafiados a refletirem sobre "o que acontecerá se ..." ou "supondo que..." e Freire(1980)que leva em conta a pluralidade e a diferença, isto é, ouvir os alunos sobre o que pensam sobre ou este material de leitura e colocar novos desafios sobre estas leituras que aí estão ao alcance de todos.

Mas é importante salientar que de nada adianta trabalhar com textos diversos se a modalidade for de ensino e não de aprendizagem. É preciso orientar para que os próprios alunos sejam instigados a refletir sobre e construir uma consciência crítica a partir do que vêem.

CULTURA POPULAR



Quando surgiu o conhecimento científico ele propiciou um grande e rápido crescimento intelectual, pois permitiu a compilação e a compreensão de muitos conhecimentos que a partir de então podiam ser utilizados por muitos. No entanto, de acordo com Santos (1987), criou-se um paradigma dominante, pois apenas o conhecimento científico tinha valor educativo e o saber popular ou senso comum, aquele que aprendemos com nossos avôs, tios, pais foi deixado de lado, como se já não tivesse importância alguma para nossas vidas. Mas a quem era útil este tipo de saber? Somente a uma elite dominante, que detinha o conhecimento e ensinava às classes sociais inferiores qual era seu papel no mundo e para isto que tipo de conhecimento tinha que ter.

O saber popular faz parte da história do indivíduo e não pode ser deixado de lado, precisa sim ser trabalhado, aprofundado, pois é a partir dele que devemos partir. Todo ser humano traz uma história, ninguém é vazio de conhecimento. Um pescador mesmo sem ter ido a escola sabe como funcionam as marés, conhece os ventos, a biodiversidade e as relações ecológicas entre os animais e o ambiente. E devido a isso, Santos (1987), defende que o paradigma dominante está em crise, pois já não serve aos princípios da educação. O autor acredita que está surgindo um paradigma emergente que questiona sobre o papel que todo conhecimento científico acumulado tem na nossa felicidade e defende a construção do conhecimento sobre o saber popular.


Nós, como educadores, precisamos lutar para uma democratização do ensino. E como fazer isso? Não basta apenas dizer que vivemos em uma democracia, precisamos começar não utilizando a avaliação de forma unilateral onde apenas um dos sujeitos envolvidos é avaliado, no caso, o aluno mas que sirva de reflexão a todos os sujeitos envolvidos assim agindo para que a função da educação seja cumprida.



Só se aprende fazer, fazendo!

"A própria construção do conceito de sujeito é cultural e toda a prática social tem seu caráter discursivo" (Luke,1996)

Dalla Zen e Trindade trazem a citação acima numa proposta de entendimento de que a fala, a leitura e a escrita nascem junto com o sujeito que inicia balbuciando sons para testar sua voz, depois arriscando repetir o que ouve a sua volta e desde que nasce o bebê é investido de um mundo de leitura involuntário, é claro, mas que passam a fazer parte da vida da criança que logo passa a conhecer por exemplo a marca do achocolatado para misturar no leite, a marca do brinquedo que gostaria de ganhar no Natal, enfim... há um mundo de leitura a sua volta.Quando chega a escola, não podemos querer que esta criança escreva textos ou se interesse por escritos que falam de praia se ele nunca foi ao litoral porque mora numa comunidade alemã do interior do Rio Grande do Sul, isto se justifica pelo simples fato de que cada uma destas comunidades apresenta sua própria cultura, linguagem popular, hábitos e estrutura social. No entanto, a função da educação é a mesma em todos os casos, pois partindo dos saberes que estas pessoas já adquiriram durante a sua existência, busca um crescimento do conhecimento de forma que o educando se torne um ser capaz de atuar na sua sociedade e no seu destino.

No exemplo acima busquei comunidades bastante distantes uma da outra mas eu própria vivi esta experiência quando me transferi a 5 anos atrás de uma comunidade no Centro de Novo Hamburgo para o Balneário Rondinha em Arroio do Sal, foi uma rica experiência pois cresci muito conhecendo a história daquele lugar que eu conhecia apenas em época de veraneio mas que quando a comunidade percebeu que eu ficaria por lá tive que conquistar meu espaço e comecei exatamente me interessando pelas histórias de lá e incentivando a escrita desta história que publiquei em

http://escolaprofessordietschi.pbwork.com

Conhecendo esta história, convidei os alunos e suas famílias para escreverem e durante as entrevistas meus alunos descobriram que meu marido conhecia um pouco da história uma vez que sua família foi uma das primeiras a ir veranear em Rondinha. Aos poucos deixamos de ser estrangeiros para nos tornar membros daquela comunidade que aprendemos a conhecer e respeitar e pela qual me sinto querida e acolhida.


Portanto, acredito que aprende-se a falar, falando; a ler, lendo e a escrever, escrevendo. Mas para trabalhar com alunos a educação exige um processo de pesquisa do professor acerca da realidade em que ele atua.

sábado, 23 de janeiro de 2010


Santomé(1998) defende a promoção da interdisciplinaridade como um dos princípios dos currículos integrados alertando que a mesma é uma filosofia sociopolítica que requer convicção e o que é mais importante, colaboração. É uma estratégia didática que facilita a busca do sentido e do valor do conhecimento. O autor tem posições muito afins com as idéias de Paulo Freire cuja posição define a educação como um ato político que busca socializar as novas gerações que manifestam as evidências do que já sabem e são desafiadas a refletirem sobre seus pontos de vista, a fazerem conjecturas facilitando os processos de ensino-aprendizagem.

Sendo assim penso que nós professores precisamos buscar os conteúdos culturais e agrupá-los de modo a dar-lhes significação no dia-a-dia da escola. Num passeio de estudos por exemplo, podemos fazer com que todos os momentos do planejamento até a volta da viagem seja definida e organizada pelo grupo de alunos, escrevendo, anotando, calculando, mapeando, descobrindo a história do lugar, enfim...

É importante que tenhamos isto muito claro em nossas mentes e principalmente que acreditemos, que tenhamos convicção porque de nada adiantam as teorias se não as colocarmos em prática.









- LIBRAS -
Língua Brasileira de Sinais


É uma língua que não é universal pois sofre influência cultural de cada povo ou lugar e existem inclusive dialetos de LIBRAS. Possui 61 sinais; os acentos vêm sempre depois das vogais que se quer acentuar. Existem os sinais icônicos que reproduzem a imagem do referente, os sinais arbitrários que não mantém nenhuma semelhança, os sinais semelhantes onde o importante é o contexto para designar por exemplo a laranja(fruta) e a cor laranja e os sinais compostos como casa + cruz = igreja ou casa + estudar = escola.

Possui identidade surda quem nasce surdo ou quem fica e constrói um jeito de ser surdo. As pessoas são batizadas por pessoas surdas de acordo com a característica mais marcante que possuem.

Para conseguir se comunicar é necessário ficar sempre de frente. A comunidade surda é construída pelo contato do surdo com outros surdos e com pessoas que mantém contato com pessoas surdas, todos que participam da cultura surda, seus costumes, sua história.


26 de setembro é o Dia do Surdo em homenagem a inauguração da primeira escola para surdos no Brasil.






O discurso sofre controle externo e interno
dentro de sistemas de apropriação,

doutrinas e sociedades de discurso,
sendo que as proibições podem ser sobre o assunto a ser explorado,
a circunstância de fala, os sujeitos envolvidos,
os comentários produzidos e a
coerência da nossa identidade
como autores,
conforme regras aceitas como "verdadeiras" para produzi-los

(Foucault, 1998).

Sabemos que a fala precede a escrita e a leitura pois os bebês escutam e com o passar do tempo vão se arriscando a repetir o que ouvem iniciando assim a utilização do som da sua voz. Aos poucos a fala vai se tornando compreensível para um maior número de pessoas.

As crianças desde cedo aprendem que conforme a situação ou a pessoa com quem estão se comunicando precisam se utilizar desta ou daquela linguagem. Quando querem fazer dengo para conseguir o que querem ou quando precisam mostrar-se seguras para que os pais permitam uma ida a casa dos amigos, usam uma linguagem diferente.

Com a escrita também ocorre desta forma. Se estamos escrevendo um texto que será entregue aos professores para avaliação, utilizamos uma escrita formal, diferente daquela que utilizamos quando conversamos num chat com nossos amigos.

Foucault(1998) explica esta mudança do uso da linguagem pois para vivermos em sociedade precisamos seguir algumas regras pré-estabelecidas que variam de acordo com o assunto e com a pessoa com quem estamos nos comunicando.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


Confesso que antes da interdisciplina Educação de Jovens e Adultos no Brasil a função da EJA não estava clara para mim que chegava a confundi-la com o supletivo, mas conforme lemos a EJA é uma modalidade recente e sempre colocada em segundo plano pelo sistema, felizmente somos privilegiados pela inserção desta disciplina no PEAD.

É importante ter clareza de que conforme diz a Constituição é preciso “procurar visar a igualdade diante da diversidade destes alunos”. Alunos estes que foram excluídos e oprimidos e que precisam construir a compreensão dos limites e possibilidades que caracterizam esta sociedade opressora proporcionando-lhes situações de aprendizagem de acordo com as suas especificidades para poder desenvolver-se e agir exercendo seu direito de cidadania com autonomia e segurança proporcionando-lhes direito a atualização permanente.

Esta educação libertadora sempre foi defendida por Paulo Freire que através de uma amorosidade incomparável sempre valorizou o saber construído pelos educandos antes mesmo de chegarem a escola e é peculiar a aprendizagem que a vida proporcionou a estes jovens e adultos que devem ser absorvidos por uma educação que os apóie, valorize e os faça refletir sobre o mundo em que vivem proporcionando uma decisão entre o permanecer e o transformar.

Ao longo deste semestre mudei totalmente minhas concepções sobre a Educação de Jovens e adultos pois através do embasamento teórico oferecido e da visita a uma escola onde tive a oportunidade de conversar tanto com alunos quanto com professores desta modalidade de ensino me senti pela primeira vez muito entusiasmada a trabalhar com EJA.

Pelos resultados da pesquisa realizada por meu grupo ainda temos muito que andar para alcançar os ideais propostos por Freire mas consegui sentir a vibração do gosto pela escola apesar do cansaço após um dia estressante de trabalho e também da energia principalmente do diretor da escola citado pela grande maioria como uma pessoa muito bacana que entende seus problemas e que se mostra brincalhão e atencioso com todos.

É muito bom saber que esta escola está encontrando a sensibilidade nos educadores para compreender estes alunos que muitas vezes chegam a escola sem motivação para aprender com um histórico de baixos salários, insatisfação com a profissão e que possivelmente origina-se no fracasso escolar, certamente uma realidade de vida muito complicada.